"Ontem, assisti a uma dessas cenas que ficam para sempre. Numa determinada praia de Fortaleza, uma senhora em trajes de banho recebeu do garçom, no prato, um caranguejo morto. A lady muniu-se de uma curta e grossa tora de madeira e começou a espancar o casco (é casco?) do bicho. Todos assistiam àquilo com um ar deliciado.

Depois de uma pancadaria policialesca, a dama apossou-se do que sobrou do crustáceo e começou a chupar. Começou pelo que foram as patas. Com sofreguidão obsecena, ela sugava sei-lá-o-quê, erguendo a cabeça, deixando que pingos imundos caissem na sua boca entreaberta, nas bochechas, por todo o rosto afinal.

Depois, pondo de lado os resíduos do que foram patas de um caranguejo, foi à sua parte mais grossa, aberta também a pancadas com a madeira. O corpo, propriamente dito. De lá, após o segundo turno de violentas porradas, retirou uma coisa gosmente, enegrecida, à qual olhou como quem depara o sublime. Nessa parte, enfiou a lingua imunda a sorver uma água que se assemelhava ao que escorre dos esgotos.

Os nativos e os turistas assistiam ao espetáculo com entusiasmo. Isso se repetiu por mais quatro caranguejos. Repetiu-se por toda a madrugada em meus pesadelos."

Autor: Augusto Lessa