1 de Dezembro: A Restauração
Posted: terça-feira, 1 de dezembro de 2009 by Cláudio Canadá inHoje é feriado em Portugal, muito bom... Chove, está frio e muitos estão em casa aproveitando mais um dia sem trabalho; é típico nos dias de hoje. Mas o que estes muitos e quem sabe, a maior parte da sociedade não sabem é que há 369 anos, uma revolta palaciana ocorrida em Lisboa, iniciada por pressão da nobreza portuguesa, que pressionou o mais rico dos nobres portugueses a encabeçar a revolta (sob pena de instauração de uma república de nobres).
Ficou confuso? Pois bem, as pessoas comemoram o feriado, a festa, e esquecem-se na esmagadora maioria dos casos que 1 de Dezembro de 1640 é também a data que dá início a um dos mais terríveis, difíceis e dramáticos períodos da história de Portugal: A Guerra da Restauração. Nesta guerra, os portugueses tiveram não só que lutar contra a coroa dos Habsburgos (a família de linhagem austríaca que ocupava os vários tronos da península ibérica), mas também contra a indiferença de antigos aliados e contra a avareza de novos aliados, mais interessados no que pudessem roubar que no apoio a Portugal.
Nesse período dramático, Portugal lutou pelo direito a ser reconhecido na cena europeia, de novo como uma nação com o direito a existir. Num momento histórico em que o clima era mais propício à criação de grandes estados do que à manutenção dos mais pequenos, Portugal praticamente estava sozinho, perante os espanhóis, que embora enfraquecidos pelos conflitos em que tradicionalmente se envolviam, continuavam a ser uma potência militarmente superior a Portugal.
Essa guerra de 28 anos pelo direito a existir, deveria servir de lição eterna. O povo, traído em 1580 por uma nobreza comprada pouco teve que ver com a restauração de 1 de Dezembro, porque ela foi acima de tudo um golpe palaciano. Mas aqueles que morreram durante 28 anos de guerra não eram (na sua maioria) membros da nobreza. São eles, aqueles que numa das mais longas, senão a mais longa das guerras em que Portugal esteve envolvido, deveriam ser os homenageados em 1 de Dezembro de 1640.
Devemos hoje, não só homenagear aqueles que durante tantos anos lutaram, como reflectir sobre o que acontece quando as elites entram em decadência perdem os princípios e se vendem a troco de uns quantos tostões, ou lugares de ilusório prestígio em empresas espanholas. Os nobres que fizeram a revolução, foram os mesmos que se prostituíram ao dinheiro fácil de uma monarquia decadente, que se lhes apresentava como vencedora em 1580.
Aqueles que hoje se vendem e vendem Portugal aos mesmos a quem o país foi vendido em 1580, estão a seguir o mesmo caminho. As vantagens económicas, a integração económica e o acesso ao grande mercado da Espanha, também foram argumentos em 1580, tragicamente, como hoje. Mas Portugal pagou um preço alto, ao ter entrado no esquecimento, e ter deixado de aparecer como um país independente, que era apenas uma província espanhola que pedia auxilio para não deixar de existir. Hoje é comum ouvirmos falar que Portugal conquistou meio mundo e agora é considerado o "cu da Europa". Está aí a explicação.
Mas, a determinação do povo, salvou-os da extinção, entretanto a traição da nobreza e das elites, essa constituiu-se num vírus que continuou. Continua até hoje no corpo do país, como uma doença incurável, um vírus mortal, que pende sobre as cabeças como uma espada. Que sirva de lição para todos os países emergentes para que o descaso das elites não apodreçam uma sociedade, um povo, uma nação.