Morreu o escritor José Saramago

Posted: sexta-feira, 18 de junho de 2010 by Cláudio Canadá in
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Prémio Nobel de Literatura, o escritor português José Saramago morreu esta sexta-feira, aos 87 anos em Lanzarote, onde residia há vários anos. O escritor estava doente e há várias semanas que não saía de casa. A Fundação José Saramago vai emitir esta sexta-feira um comunicado.

Dentre muitos factores de destaque, prefiro falar (neste momento) da vida polémica em torno da religião que tanto marcou o escritor. A relação entre a hierarquia católica e Saramago foi marcada por momentos de debates públicos e declarações polêmicas, motivados pela crítica ferrenha de Saramago à instituição e pela abordagem dos temas bíblicos em obras como "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", de 1991, e "Caim", de 2009.

As últimas arestas entre católicos e o escritor foram aparadas no lançamento de Caim, obra na qual Saramago faz uma crítica à Bíblia e à visão de Deus expressa no Antigo Testamento. Foram comentários acirrados entre ambas as partes tendo estes ajudado as vendas do livro. Mesmo assim, a Igreja Católica em Portugal emitiu uma nota de pesar em virtude da morte do plémico escritor:

VOTO DE PESAR PELA MORTE DE JOSÉ SARAMAGO

O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura expressa o seu pesar na morte de José Saramago, grande criador da língua portuguesa e expoente da nossa cultura. José Saramago ampliou o inestimável património que a literatura representa, capaz de espelhar profundamente a condição humana nas suas buscas, incertezas e vislumbres.

Como é público, o cristianismo e o texto bíblico interessaram muito ao autor como objecto para a sua livre recriação literária. Há uma exigência e beleza nessa aproximação que gostaríamos de sublinhar. O único lamento é que ela nem sempre fosse levada mais longe, e de forma mais desprendida de balizamentos ideológicos. Mas a vivacidade do debate que a sua importante obra instaura, em nada diminui o dever da cordialidade de um encontro cultural que, acreditamos, só pode ser gerado na abertura e na diferença.

Lisboa, 18 de Junho de 2010

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